Brasil, o país do futuro, adiado mais uma vez.

“Nunca antes nesse país” vimos e sentimos um clima tão ruim, negativo, de desesperança e cansaço em todas as classes sociais ao mesmo tempo.

“Nunca antes nesse país” uma Copa do Mundo nos fez pensar tão pouco no futebol, na seleção e na festa da vitória e tanto na triste realidade que deglutimos todos os dias. Melhores do mundo no futebol? Não precisamos de mais uma taça na prateleira. Precisamos de dignidade.

A Copa do Mundo mostra nossa cara. A mais cara da história, a mais ineficiente em gestão. A corrupção certa, em arenas desnecessárias, que orçadas já seriam as mais caras da história e, no entanto, conseguimos consumir até o triplo dos orçamentos prévios. Aproveitar a Copa para resolver problemas de infra-estrutura, moradia, educação, mobilidade como todos os países anteriores aproveitaram? Bem, isso vai ter de ficar para a próxima oportunidade, pois essa não soubemos aproveitar.

Estou convencido de que o Brasil faliu. Faliu, não apenas economicamente, ainda que tenhamos conseguido quebrar a maior empresa nacional e uma das maiores do mundo, a Petrobrás. Não somente por temos os portos mais caros do mundo, aeroportos dos mais ineficientes, lamentáveis estradas, etc. Não só por sermos o país mais caro do mundo em impostos e termos os produtos mais caros do mundo para nossa sofrida população, que paga pela burocracia, ineficiência, incompetência e corrupção de toda a Nação. Mas, falimos também na sociedade. Nos valores. Nos princípios. Na família. Nas Instituições. Na Justiça. Na Política. No trato com o que é público. No respeito ao semelhante, à natureza e aos animais. Na questão ambiental. Na mobilidade urbana.

Se quisesse falar das já sabidas falidas Segurança, Saúde e Educação, precisaria escrever um livro e não um artigo. Vou poupá-los do óbvio.

Podemos ver que falimos quando, no dia-a-dia, vemos a inversão de valores. A conformidade e tolerância aos desmandos, à corrupção e à má gestão. Nós, brasileiros, estamos achando, acreditando e aceitando que “é assim mesmo” esse tanto de descaso com o nosso suado dinheiro, o desgoverno e a perda de controle da sociedade. Achamos normal ter que se trancar em casa com medo, ver notícias de desgraça a todo instante nos jornais e na TV. Achamos que a impunidade não tem solução (e temos motivos para isso). Convivemos com uma falta de respeito ao outro sem precedentes, levando à famigerada “Lei de Gerson” ao extremo, onde a sociedade toda procura arrumar um “jeitinho” de garantir a sua parte.

A falta de amor impera. Amor à nação, ao próximo, à coisa pública. E não são só os políticos, como muitos pensam e reclamam. A todo momento estamos desrespeitando o próximo, os sinais de transito, as leis. Ao contrabandear uma coisinha ou outra, comprar um CD pirata, dar uma propina ao guarda de trânsito, ou ao votar sem consciência estamos todos construindo esse cenário triste que assistimos dia-a-dia. Como você tem desempenhado seu papel nessa história?

O Brasil faliu, meus irmãos. E estou achando isso ótimo. Creio ser bom estarmos chegando ao fundo do poço. Se depois de toda tempestade há a bonança, depois de toda falência há que se recomeçar também.

Nossa desgraça é nesse momento nossa maior aliada. A maior chance que temos em mais de 500 anos para repensar nosso País. Para re-escrever a história, fazendo um novo começo. Com um povo mais consciente de seu papel na sociedade, seu papel público e político, como cidadão.

Depois de uma falência, só mesmo construindo um novo modelo de política, de sociedade, de ordem econômica, social e ambiental.

Aposto nessa chance. E que cada um de nós assuma o seu papel e faça sua parte em prol da realidade que merecemos.

Publicado também no Diário da Região em 23/05/2014.

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