Quem quando criança não teve a vontade de ficar trancado em uma loja enorme de brinquedos?

Seja por desejo de ter todos os brinquedos do mundo, seja para tentar atenuar o medo de ficar sozinho ou esquecido que muitas crianças sentem ao menos uma vez. Bem, eu tive isso na minha infância e não sei se você também teve, mas para mim, sempre pareceu que todo mundo teve. Pois é, aos meus 35 anos, senti essa vontade-desejo novamente, só que dessa vez, como observador de mim mesmo, senti essa vontade-desejo de ficar preso em uma grande livraria.

Explico:

Tenho ficado algumas semanas em Manaus, apenas eu, sem meus filhos ou esposa. Estou aqui trabalhando, em uma oportunidade surgida após o resultado de que eu não fui eleito em minha primeira tentativa. Estou aqui, aliando o desafio profissional apresentado e sua interessante remuneração nessa fase com um momento para ficar só, para me encontrar, me conhecer melhor, algo como um período sabático. E, há poucos lugares na Terra tão bons para essa busca quanto a floresta Amazônica com sua exuberante grandeza e energia, pura força da Natureza.

Ontem passei a tarde do sábado numa mega livraria do mais novo shopping de Manaus. Tomando um café enquanto lia inúmeras orelhas e contra-capas dos mais variados livros. De gastronomia a negócios, de filosofia à auto-ajuda, de religião à história, de espiritualismo à biografias e poemas. Tenho lido bastante nessa fase e confesso que ainda (e creio que sempre será) é bem mais agradável e interessante zapear, folhear e procurar livros e conteúdo no mundo físico de uma bela livraria a fazê-lo nos web sites da internet.

Em especial, na internet de Manaus, que assim como toda a telecomunicação aqui, é bem lenta, diga-se de passagem. Somado ao fato de que eu deliberadamente estou sem televisão no apartamento em que estou instalado, bem de frente ao Rio Negro, nas areias de sua bela praia da Ponta Negra.

Voltemos ao principal e à minha explicação:

Eu tive um flash de pensamento em como seria interessante ficar preso, se fosse o caso, dentro daquela livraria e poder absorver todo o conhecimento ali depositado em milhões, provavelmente bilhões ou trilhões de páginas dos mais variados textos e assuntos. Percebi que estou em busca não apenas de conhecimento, mas de Sabedoria.

Naquele flash de pensamento, me veio à tona, que desde à primeira vez que tive na infância a vontade-desejo de ficar preso, passar a noite ou sei lá, em uma grande loja de brinquedos, ocorreram ao longo de minha vida outras imperceptíveis, inconscientes ou mesmo verbalizadas vontades-desejos dessa mesma natureza, só que em faixas vibratórias diferentes da pureza da infância. Algo como se fossemos sendo dragados pelas convenções sociais, pelo materialismo e por nossa própria fraqueza interior.

Na adolescência pensei em ficar preso no banheiro das meninas, ou naquela casa de praia onde só havia moças mais velhas e sozinhas. Mais para frente na adolescência, no inicio dos anos 90, pensei em ficar preso em um outlet nos USA, e poder sair dali com todos os tênis Reebok-pump, os toca CDs, camisetas, eletrônicos, e o que mais era da moda da época e do desejo da idade.

Quem, da minha geração, não assistiu o filme Curtindo a Vida Adoidado na década de 80 e não teve a vontade de ficar preso em uma loja cheia de Ferrari´s e poder sair escondido pelas ruas.

Depois tive a vontade-desejo de ficar preso em um grande supermercado gourmet, algo assim como o Santa Luzia nos Jardins em São Paulo, ou como o Wholefoods nos USA, para me deliciar das iguarias da gastronomia mundial e o que há de melhor e mais caro no gênero. Também passou pela minha mente a vontade de ficar preso em uma grande loja de vinhos e ali poder degustar os mais nobres e exclusivos rótulos. Unindo os últimos 3, acho que deve ter passado por minha cabeça ficar preso nas Galerias Lafayete em Paris.

Só ontem, talvez como reflexo do momento que estou dedicando a mim, a me conhecer por dentro e melhor, cuidando do meu corpo (através da alimentação e do exercício físico), da minha mente e do meu espírito é que pude ver o quão distante somos no dia-a-dia da Verdade, da Realidade maior.

Agora, graças à mim, para não ser piegas e dizer graças à Deus, pois ele sempre esteve por aí, só agora é que estou realmente descobrindo que ele sempre esteve é dentro de mim, então, tenho que dizer que foi graças à mim, que estou me desprendendo das armadilhas da vida nesse plano em que estamos. Um dos livros que estou lendo é “Escola dos Deuses” que tem servido de ponto de ruptura em meu pensamento e que recomendo. Fala de Deus, sem ser de nenhuma religião. Fala em especial do Deus que existe em cada um de nós.

E estou bem feliz. Que minha vontade-desejo de criança agora está evoluída não para a mesquinhez e egoísmo de uma conquista material. Tampouco para a vaidosa conquista de posses para que os outros as vejam, nem para conquistas que me dêem o pseudo-prazer momentâneo, mas sim, para a evolução de querer cada vez mais Sabedoria.

Inclusive, um dos livros que eu li a orelha foi sobre a vida de Salomão, segundo o título dessa obra, o homem mais rico que existiu. E, fui consultar a bíblia, algo que não fazia de verdade desde as aulas religiosas da infância. Mas dessa vez, não fui consultá-la com a frieza de quem não quer ouvir os ensinamentos impostos na adolescência, nem tampouco com o preconceito passado por alguns professores de história ou matemática, ligados radicalmente à ciência e que influenciam negativamente à religião, nem tampouco com a devoção cega do temente à Deus, que segue as letras sem compreender seu significado e depois, quando sai da igreja, volta para o mundo exalando inveja, violência, e outras tantas mazelas da humanidade, inclusive o medo de tudo, já que é temente, ou seja, teme.

Abri a Bíblia para pesquisar, sem pré-conceitos positivos ou negativos e tentar entender um pouco mais sobre quem foi o Rei Salomão. E vi, pelas escrituras, a mensagem mais importante na minha ótica. A mensagem de que pela sua humildade, Salomão, ao pedir à Deus em seu sonho-conversa apenas sabedoria, teve-a concedida e assim conquistou tudo o mais o que todos os outros reis sempre pediram como riqueza, paz, glória, reconhecimento, etc.

Então, entendi que somos repetidas vezes reféns de nossas vontades-desejos, de nosso ego e vaidade, de nossos medos. Entendi que só evoluímos de verdade, quando passamos a nos conhecer, pois só assim podemos nos abrir para a busca e a conquista da Real Sabedoria.

E resolvi escrever e publicar esse texto para também deixar para trás alguns paradigmas que escutei ao longo dos últimos anos. Escutei muito que não devemos misturar fé com política. Que não devemos ter fé cega em detrimento dos fatos ditos “reais e concretos” da vida, e também que se tivermos razão não devemos nos deixar pela fé sermos levados, é o dito daqueles que se dizem “cientistas”. Pois bem, o que me levou àquele shopping center foi o filme SENNA, contando um pouco da história de um dos mais patriotas dos brasileiros. Fui assistir ao filme do Senna, que para mim, sempre foi um exemplo e constatei que sua tríade: Dedicação, Determinação e Perfeição, tem como base a sua fé inabalável em seu sonho.

Esse que foi um ídolo para a maioria dos brasileiros e para milhões de pessoas de outras nações, nos deu um exemplo, vencendo em um esporte tão competitivo nunca deixou de externar sua fé e seu patriotismo. E eu não quero deixar mais apagado em mim a minha declarada Fé consciente de que temos uma missão como país, um destino para com a humanidade e que eu quero fazer a minha parte para que isso aconteça ao Seu tempo.

E quem criticar achando que Política, Fé e Ciência (ou sabedoria e conhecimento) não devem se misturar, ou nunca leu os clássicos da filosofia ou simplesmente quer continuar preso no shopping center que é essa vida cheia de ilusões. Lógico que vou continuar indo ao shopping, me vestindo e comendo tão bem quanto eu puder e até tomando um vinho de vez em quando. A diferença disso tudo para mim, de agora em diante é que eu estou me conhecendo melhor e sei que isso é tudo ilusão.

Estou acordando. E acordado, não posso deixar de fazer a minha parte.

28 de Dezembro de 2010.

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